Registro gera comoção nas redes e escancara abandono social; número de pessoas em situação de rua cresce no Amazonas e em todo o país
Coari (AM) – Uma imagem registrada no Cemitério Municipal Santa Terezinha, em Coari, no interior do Amazonas, tem gerado repercussão nas redes sociais. O flagrante mostra um casal dormindo abraçado sobre uma sepultura, utilizando o espaço como abrigo improvisado.
Segundo relatos, a cena foi registrada por um visitante e compartilhada em grupos de WhatsApp da cidade. Na imagem, os dois aparecem deitados, cobertos por lençóis, com alguns pertences pessoais ao redor. A fotografia evidenciou uma realidade alarmante: o aumento da população em situação de rua e a ausência de políticas públicas de acolhimento.
O cemitério fica localizado na Rua Gonçalves Lêdo, bairro Espírito Santo, e é o principal da cidade. Moradores afirmam que casos semelhantes têm se tornado comuns. “A gente vê cada vez mais pessoas dormindo nas ruas ou invadindo locais públicos para se abrigar. Isso não é só um caso isolado, é uma consequência do abandono social”, disse um morador da região.
Até o momento, a Prefeitura de Coari e a Secretaria Municipal de Assistência Social não se pronunciaram oficialmente sobre o ocorrido.
Crescimento da população em situação de rua
De acordo com dados do Cadastro Único (CadÚnico) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil ultrapassou quase 300 mil pessoas vivendo em situação de rua em 2023, número que cresceu de forma acentuada após a pandemia de Covid-19, em meio ao aumento da pobreza, desemprego e insegurança alimentar.
No Amazonas, os números também são preocupantes. Segundo levantamento da Secretaria de Assistência Social do Estado, cerca de 2.500 pessoas vivem em situação de rua na capital, Manaus, com estimativas ainda incertas no interior. Especialistas apontam que, em cidades menores como Coari, a ausência de centros de acolhimento, serviços de saúde itinerantes e políticas de habitação agrava ainda mais o problema.
Organizações da sociedade civil alertam para o agravamento do cenário diante da falta de uma política estadual consistente de atendimento a essa população. “É necessário ir além da assistência pontual. Falta um plano estruturado de moradia, saúde e inclusão social”, afirmou uma representante de ONG que atua no interior do estado.
A imagem do casal dormindo sobre um túmulo, em meio ao silêncio do poder público, se tornou símbolo de um problema nacional: o abandono daqueles que, invisibilizados, lutam diariamente pela sobrevivência.