Manaus (AM) – A trágica morte da biomédica Giovana Aquino, de 29 anos, grávida de quase oito meses, e da bebê Maria Carolina, provocada por um buraco na avenida Djalma Batista, zona Centro-Sul de Manaus, está gerando forte repercussão política e social. A Prefeitura de Manaus agora está na mira de uma possível Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) para investigar o destino de R$ 181 milhões repassados pelo Governo do Estado ao programa Asfalta Manaus.

A proposta foi anunciada nesta segunda-feira (23) pelo deputado estadual Delegado Péricles (PL), durante um pronunciamento contundente na tribuna da Aleam. O parlamentar responsabilizou diretamente o Executivo Municipal pela precariedade da infraestrutura viária da cidade, que segundo ele, culminou na morte de Giovana e sua filha ainda no ventre.
“Convido os colegas deputados a instalar uma CPI para investigar como foram gastos os R$ 181 milhões destinados pelo Governo do Estado para o Asfalta Manaus. O que estamos vendo nas ruas é um verdadeiro descaso com a vida da população”, disparou Delegado Péricles.
Acidente que chocou Manaus

O acidente que tirou a vida de Giovana e da bebê ocorreu na noite de domingo (22), quando a motocicleta conduzida pelo esposo dela, Lucas Souza, caiu após passar por um grande buraco na via. Lucas sobreviveu, mas sofreu ferimentos e segue em recuperação.
A tragédia causou comoção nas redes sociais, levantando uma onda de protestos virtuais contra a gestão municipal. Imagens do local e de outros pontos críticos da cidade, cheios de crateras, circularam amplamente, com internautas cobrando soluções imediatas.
Acusações de maquiagem asfáltica e desperdício de recursos
O deputado Delegado Péricles criticou ainda o que classificou como “maquiagem asfáltica”, acusando a Prefeitura de priorizar recapeamentos desnecessários em avenidas com pavimento em boas condições, enquanto bairros inteiros seguem intransitáveis.
“Enquanto ruas de comunidades periféricas estão tomadas por buracos, a Prefeitura remove asfalto bom de locais como a avenida do Turismo para colocar outro por cima. Isso é um escárnio com o dinheiro público”, afirmou.
O parlamentar também destacou que a morte da biomédica é apenas um dos casos extremos provocados pelo abandono da malha viária, que diariamente registra acidentes, prejuízos materiais e, agora, tragédias fatais.
Pressão por responsabilização e debates na Aleam
O discurso de Péricles provocou reação imediata entre outros parlamentares, que passaram a discutir a viabilidade jurídica e política de abrir a CPI ainda nas próximas semanas. Alguns deputados sugeriram que a base aliada do prefeito David Almeida (Avante) pode tentar barrar a proposta, mas o clima entre os parlamentares é de crescente insatisfação com a situação das vias públicas.
Nas redes sociais, a revolta é ainda maior. Moradores de diferentes zonas da cidade compartilham relatos de quedas, prejuízos e medo de trafegar pelas ruas de Manaus.
O deputado finalizou sua fala com críticas diretas à gestão municipal e a declarações recentes de aliados do prefeito.
“Enquanto o luto de uma família vira símbolo de indignação coletiva, não podemos permitir que essa tragédia seja tratada como um simples ‘incidente’ causado por um ‘buraquinho’, como tentou minimizar o irmão do prefeito em uma declaração vergonhosa. A pergunta que fica é: quantas mortes mais serão necessárias para que a gestão municipal finalmente seja responsabilizada?”, questionou Péricles.
Próximos passos
Nos bastidores da Aleam, a expectativa é que nos próximos dias o deputado formalize o pedido de abertura da CPI, que depende da assinatura de pelo menos oito parlamentares para ser instalada.
Enquanto isso, a Prefeitura de Manaus ainda não se pronunciou oficialmente sobre a proposta de investigação, nem sobre o andamento das obras do programa Asfalta Manaus.