Manaus (AM) – Enquanto motoristas enfrentam diariamente o desafio de trafegar por ruas esburacadas, alagadas e mal sinalizadas na capital amazonense, um detalhe chamou a atenção nas redes sociais no último final de semana: a primeira-dama de Manaus, Izabelle Fontenelle, apareceu em um evento social carregando uma bolsa da grife italiana Dolce & Gabbana, avaliada em US$ 2.795, o equivalente a aproximadamente R$ 15.400, de acordo com a cotação atual do dólar.
O episódio aconteceu durante um casamento badalado, com presença de várias figuras públicas da cidade. Fotos do evento circularam em perfis locais de fofoca e também em grupos de WhatsApp, gerando uma enxurrada de críticas nas redes. Para muitos internautas, a imagem da primeira-dama segurando o item de luxo virou símbolo de uma gestão municipal desconectada da realidade da população.
Luxo pessoal, imagem pública (e politicamente custosa)
O debate não é sobre criminalizar o consumo de bens de luxo, mas sobre o momento e o contexto. Em uma cidade onde milhares de famílias convivem com ruas esburacadas, falta de drenagem, transporte público deficiente e problemas de saúde pública, a ostentação de um acessório que custa quase 11 salários mínimos soa como uma provocação.
Segundo levantamento da própria Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), Manaus tem hoje cerca de 40 mil buracos mapeados em suas vias urbanas. Acidentes de trânsito envolvendo danos causados por crateras no asfalto são cada vez mais comuns. Além disso, moradores de bairros como Cidade Nova, Zumbi, Jorge Teixeira e Alvorada reclamam há meses da falta de recapeamento.
A pergunta que muitos fazem nas redes sociais é direta: quantos metros de asfalto poderiam ser recuperados com R$ 15 mil? Quantos buracos poderiam ser tapados?
Comunicação política mal calculada
Izabelle Fontenelle, por ser esposa do prefeito David Almeida (Avante), ocupa um lugar de destaque na cena pública de Manaus. Como primeira-dama, sua imagem também comunica – e, nesse caso, o recado não foi bem recebido por boa parte da população. A falta de sensibilidade política ao exibir esse tipo de artigo de luxo num momento em que a cidade enfrenta um colapso na infraestrutura urbana tem sido vista como um erro estratégico.
Especialistas em comunicação política avaliam que, em tempos de crise econômica e alta reprovação popular, figuras públicas devem ter cuidado redobrado com a exposição de símbolos de status.
Manaus: prioridade é asfalto ou ostentação?
Enquanto a primeira-dama posa com sua bolsa da Dolce & Gabbana, os moradores de Manaus seguem desviando de crateras e enfrentando problemas básicos de mobilidade urbana. A sensação generalizada é de abandono, e a imagem da bolsa virou, para muitos, um retrato simbólico do descompasso entre a administração municipal e as reais necessidades da população.
Ao final, fica a reflexão: Manaus precisa de mais glamour nas redes sociais ou de mais compromisso com a melhoria da cidade?
