A nova roda-gigante instalada no complexo turístico da Ponta Negra, em Manaus, segue gerando polêmica antes mesmo de completar a primeira semana de funcionamento. Além das críticas ao preço considerado elevado e à obrigatoriedade da compra de ingressos pela internet, a empresa responsável pela operação da atração foi criada apenas dois dias antes da inauguração oficial, marcada para esta quinta-feira (20), feriado da Consciência Negra.
A Wheel Manaus, empresa que administra o equipamento, foi constituída em 18 de novembro de 2025, conforme consulta realizada pela reportagem à Receita Federal. O CNPJ está registrado com capital social de R$ 300 mil e tem como proprietário o empresário Jean Marcos Praia Rocha. O endereço fiscal indicado no cadastro é um imóvel localizado na Avenida Autaz Mirim, nº 6798, bairro São José Operário, zona Leste de Manaus.
Preço e taxa obrigatória irritam visitantes
O valor do ingresso tem sido um dos principais motivos de reclamação. A tarifa custa R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), mas quem compra pelo site — por enquanto, a única forma disponível — é obrigado a pagar uma taxa de conveniência, elevando os valores para R$ 46 e R$ 23, respectivamente. A Prefeitura ainda não confirmou se haverá bilheteria física.
Moradores afirmam que o custo torna o passeio inacessível para famílias de baixa renda e acusam a administração do prefeito David Almeida (Avante) de promover um projeto turístico elitizado e sem transparência.
Marketing de cidade modelo x realidade das periferias
Críticos apontam que o prefeito vem tentando vender a imagem de uma Manaus moderna e impecável, inspirada em exemplos como Balneário Camboriú (SC) — cidade reconhecida pela organização urbana e infraestrutura de alta qualidade, onde uma roda-gigante semelhante opera como atração turística consolidada.
Entretanto, segundo moradores e lideranças comunitárias, a realidade encontrada fora do eixo turístico é bem diferente. Denúncias relatam bairros da zona Norte e Leste em situação de abandono, com ruas esburacadas, crateras sem reparo, acidentes graves e até mortes de pessoas que caíram em buracos abertos e sem sinalização. Além disso, UBSs operam sem medicamentos e com atendimento precário, agravado pela greve dos professores, que protestam contra o projeto conhecido como “PL da Morte”, apontado como um ataque aos direitos da categoria.

Para parte da população, a roda-gigante se tornou símbolo de um governo preocupado com cenários de cartão postal, enquanto bairros periféricos seguem esquecidos e enfrentando problemas básicos.