A arrecadação da Prefeitura de Manaus com multas de trânsito registrou um salto expressivo entre julho e setembro de 2025, alcançando R$ 8,4 milhões, conforme dados do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU). O volume acendeu críticas de motoristas, especialistas e vereadores da oposição, que apontam suposto uso da fiscalização eletrônica como fonte de receita — e não como ferramenta de segurança viária.
No período, foram aplicadas 42.523 multas, sendo 22.544 em setembro, mês de maior incidência, que sozinho gerou R$ 4,56 milhões aos cofres municipais. Em agosto, foram 10.849 autuações (R$ 2,16 milhões), e em julho, 9.130 multas (R$ 1,70 milhão).
A maioria das autuações corresponde a valores de R$ 130,16 a R$ 293,47, por infrações como excesso de velocidade e avanço de sinal. Mesmo em menor volume, infrações gravíssimas, com multas de até R$ 1.467,35, representaram impacto significativo na receita: em setembro, 397 autos renderam R$ 411,7 mil, o equivalente a 9% de tudo que foi arrecadado no mês.
Radares liberados em julho impulsionaram arrecadação
O crescimento brusco coincidiu com a ativação dos 20 novos radares eletrônicos instalados pela gestão, que entraram em operação no dia 1º de julho. Os equipamentos foram distribuídos em vias de grande fluxo e longos trajetos de velocidade variável, como Santos Dumont, Nilton Lins, Coronel Teixeira, Ephigênio Salles e Autaz Mirim — pontos que, segundo críticos, favorecem a autuação de motoristas desatentos e ampliam potencial de arrecadação.
Especialistas em mobilidade urbana apontam que, quando mal planejada, a concentração de radares em áreas estratégicas pode induzir à penalização em vez de prevenir acidentes, especialmente quando mudanças de limite de velocidade não são sinalizadas com clareza.
Transparência sob cobrança
Embora a legislação determine que todo valor arrecadado seja aplicado exclusivamente em ações de mobilidade, a Prefeitura não detalhou publicamente como os recursos foram utilizados, limitando-se a afirmar que o dinheiro financia manutenção de radares, sinalização e campanhas educativas.
Vereadores e entidades civis cobram divulgação de relatórios completos, incluindo investimentos específicos e impactos reais das ações de fiscalização na redução de acidentes. Para críticos, a falta de transparência alimenta a percepção de que a medida tem viés arrecadatório.
Manaus ocupa posição crítica no ranking nacional
Apesar da fiscalização intensificada, o Amazonas aparece na última posição nacional em segurança viária, considerando indicadores de educação no trânsito, normatização e infraestrutura. Para opositores, o dado reforça a tese de que a política atual “arrecada muito e educa pouco”.
Crítica central
Mesmo com arrecadação recorde, a cidade segue convivendo com sinalização precária, avenidas esburacadas, congestionamentos e índices alarmantes de acidentes. Para parte da população, Manaus vive uma contradição: é campeã em multas, mas fracassa em segurança viária.