Brasil – A investigação sobre a morte de Vitória Regina de Sousa, adolescente de 17 anos encontrada morta em uma área de mata em Cajamar, na Grande São Paulo, tomou um rumo inesperado nesta segunda-feira, 10 de março de 2025. Após semanas de buscas por respostas e análise de depoimentos, a Polícia Civil incluiu o pai da vítima, Carlos Alberto Souza, na lista de suspeitos do crime que chocou a população local. A decisão, confirmada por investigadores, baseia-se em contradições nos relatos de Souza e em um comportamento considerado “peculiar” logo após a tragédia, como o pedido de um terreno ao prefeito da cidade em meio ao luto. O caso, que já conta com sete suspeitos identificados, incluindo o ex-namorado Gustavo Vinícius Moraes, segue cercado de mistérios e exige das autoridades um esforço minucioso para esclarecer os fatos. Enquanto isso, a defesa de Carlos Alberto contesta veementemente a inclusão, alegando falta de fundamentação e ausência de depoimento formal do pai.
Vitória desapareceu em 26 de fevereiro, após sair do trabalho em um shopping local e embarcar em um ônibus rumo à zona rural de Cajamar, onde morava com a família. Durante o trajeto, a jovem enviou mensagens a uma amiga, relatando medo de estar sendo seguida por dois homens, o que marcou seus últimos contatos antes do sumiço. O corpo foi localizado em 5 de março, em estado avançado de decomposição, exibindo sinais de extrema violência: cabeça raspada, ferimentos por faca e sem roupas, exceto por um sutiã preso ao pescoço. A brutalidade do crime levantou hipóteses de vingança e até mesmo envolvimento de facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua na região.
Com a reviravolta envolvendo o pai, a investigação ganha nova complexidade. A Polícia Civil mantém a cautela, mas destaca que a inclusão de Carlos Alberto segue os mesmos critérios aplicados aos demais suspeitos: análise de inconsistências e busca por evidências concretas. Até o momento, mais de 14 pessoas foram ouvidas, e dois veículos, incluindo um Toyota Corolla, foram apreendidos para perícia, que encontrou vestígios como um fio de cabelo ainda em análise no Instituto Médico Legal (IML).
Cronologia do caso Vitória: os últimos passos da jovem e os rumos da investigação
O desaparecimento e a morte de Vitória Regina de Sousa mobilizaram a comunidade de Cajamar e expuseram a vulnerabilidade da região rural da cidade. A jovem, que trabalhava como operadora de caixa em um restaurante de shopping, saiu de seu expediente na noite de 26 de fevereiro e seguiu para um ponto de ônibus. Câmeras de segurança registraram seus últimos momentos antes de embarcar no coletivo, enquanto mensagens enviadas a uma amiga revelaram seu crescente temor diante da presença de dois homens suspeitos. Após descer no ponto final, no bairro Ponunduva, Vitória caminhou em direção à casa, a cerca de 15 minutos dali, mas nunca chegou ao destino. Testemunhas relataram ter visto um carro com quatro ocupantes seguindo a adolescente, o que reforçou a suspeita de que ela foi abordada logo após deixar o ônibus.
Passada uma semana de angústia, o corpo foi encontrado por cães farejadores da Guarda Civil Municipal em uma mata fechada, a aproximadamente 5 quilômetros de sua residência. A cena do crime chocou os agentes: além dos sinais de tortura, como cortes no tórax, pescoço e rosto, a jovem teve a cabeça raspada, um detalhe que a polícia associa a possíveis rituais de vingança ligados a grupos criminosos. A investigação avançou rapidamente, identificando sete suspeitos iniciais, entre eles o ex-namorado Gustavo Vinícius Moraes, dono de um relacionamento de quatro meses com Vitória, terminado semanas antes do crime. Contradições em seu depoimento levaram a um pedido de prisão temporária, negado pela Justiça por falta de provas diretas de envolvimento no assassinato.
Agora, a inclusão de Carlos Alberto Souza como suspeito adiciona uma camada de perplexidade ao caso. Após a confirmação da morte da filha, ele teria abordado o prefeito de Cajamar, Kauãn Berto, solicitando um terreno em um contexto que os investigadores julgaram incomum. Esse episódio, somado a inconsistências em seus relatos, motivou a Polícia Civil a aprofundar as apurações sobre seu papel na tragédia. A defesa, no entanto, alega que Carlos Alberto não foi formalmente ouvido, o que levanta questionamentos sobre a solidez das suspeitas contra ele.
Suspeitos em foco: quem está na mira da polícia no assassinato de Vitória
A lista de suspeitos no caso Vitória Regina reflete a complexidade da investigação conduzida pela Delegacia de Cajamar. Inicialmente, sete indivíduos foram apontados como potencialmente envolvidos, todos com algum grau de conexão entre si ou com a vítima. Entre eles estão Gustavo Vinícius Moraes, ex-namorado da jovem, cuja presença próxima ao local do crime foi confirmada por sinais de celular, embora ele negue participação direta. Outro nome destacado é Maicol Antônio Sales dos Santos, dono do Toyota Corolla que teria sido usado para perseguir Vitória antes de seu desaparecimento. Maicol foi preso em 8 de março, após a Justiça acolher um pedido de prisão preventiva baseado em fortes indícios de seu envolvimento.
Além disso, a polícia investiga dois homens que assediaram Vitória no ponto de ônibus, outros dois que embarcaram no mesmo coletivo que ela e um motorista que estaria no Corolla com Gustavo. Um sétimo suspeito, identificado como Daniel, é apontado como possível autor material do crime, motivado por ciúmes em um suposto triângulo amoroso com Gustavo. Daniel, que teria um relacionamento com o ex-namorado da vítima, permanece foragido, e buscas por ele e dois comparsas foram intensificadas em áreas de mata na zona rural de Cajamar. A inclusão de Carlos Alberto Souza como oitavo suspeito surpreendeu a comunidade, mas os investigadores afirmam que todos os nomes estão sendo analisados com igual rigor.
Evidências e desafios: o que a perícia revela sobre o crime
A investigação do assassinato de Vitória Regina enfrenta obstáculos significativos devido ao estado em que o corpo foi encontrado. Localizado em uma área de mata após sete dias de buscas, o cadáver estava em decomposição avançada, dificultando a determinação precisa da causa da morte e a identificação de vestígios como DNA sob as unhas da vítima. Peritos confirmaram três ferimentos por faca — no tórax, pescoço e rosto —, mas a ausência de sangue em grande quantidade no local sugere que Vitória foi morta em outro ponto e transportada até ali. A cabeça raspada e as mãos envoltas em saco plástico indicam uma tentativa dos criminosos de eliminar evidências, o que reforça a tese de um crime planejado.
Dois veículos apreendidos tornaram-se peças-chave na apuração. O Toyota Corolla, ligado a Maicol e emprestado a Gustavo, revelou um fio de cabelo feminino em seu interior, enviado ao IML para análise. Um segundo carro, um Corsa branco pertencente a um vizinho, também passou por perícia com uso de luminol, mas os resultados ainda não foram divulgados. Esses elementos materiais, aliados aos depoimentos de mais de 14 testemunhas, formam a base da investigação, que busca conectar os suspeitos à cena do crime. A brutalidade do assassinato, incluindo a decapitação parcial, levou a polícia a considerar a participação de uma facção criminosa, como o PCC, que mantém influência em Cajamar, especialmente na favela próxima ao ponto onde Vitória foi vista pela última vez.