A Justiça condenou o técnico de vôlei, Walhederson Brandão Barbosa, por exploração sexual de 11 atletas, todos alunos dele. A sentença foi expedida nesta quarta-feira (19), com o homem condenado a 78 anos, 6 meses e 12 dias de reclusão.
Walhederson Brandão Barbosa também deverá pagar, a título de indenização para cada uma das 11 vítimas, o valor de R$ 5 mil.
A juíza de direito, Jacinta Silva dos Santos, responsável pela 2.ª Vara Especializada em Crimes contra a Dignidade Sexual e de Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, foi quem conduziu o processo e proferiu a sentença.
De acordo com o apurado no Inquérito Policial que serviu de base para o oferecimento da Denúncia pelo Ministério Público do Amazonas, o réu se aproveitava da sua condição de treinador e técnico de voleibol, induzia, atraia e submetia à prostituição seus alunos adolescentes.
Os atos libidinosos decorrentes da atração e sujeição desses adolescentes ao estado de prostituição ocorreram em Manaus na casa do professor. Ele era treinador do time de vôlei de um colégio da rede estadual de ensino.
O acusado foi preso temporariamente durante as investigações, e a Justiça autorizou buscas e apreensões. Posteriormente, sua prisão foi prorrogada por mais 30 dias e, em seguida, convertida em prisão preventiva.
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A denúncia do Ministério Público do Amazonas (MPE) foi aceita pela Justiça em 5 de março de 2024. Após a apresentação da defesa, o Juízo analisou o caso e concluiu que não havia fundamento para uma absolvição antecipada.
A primeira audiência ocorreu em 21 de junho de 2024, quando foram ouvidos os depoimentos das vítimas e das testemunhas indicadas pelo Ministério Público e pela defesa. O processo de instrução foi finalizado em 23 de agosto de 2024, com o interrogatório do réu.
Convocada para a 101ª PJ, a promotora de Justiça Marcelle Cristine de Figueiredo Arruda destacou a coragem das vítimas ao denunciarem seus agressores, pois, segundo ela, trata-se da melhor forma de “não saírem impunes das perversidades que praticam, bem como previne que outras crianças ou adolescentes sejam vítimas de abusadores e exploradores”.
“O Ministério Público continuará combatendo essas práticas criminosas, prestando o devido apoio às vítimas e incentivando que os crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes cheguem ao conhecimento das autoridades competentes, de modo que abusadores e exploradores sexuais sejam devidamente investigados, processados e punidos severamente, como neste caso”, ressaltou a Promotora de Justiça.
Relembre o caso
As investigações da Operação Bloqueio apontam que o técnico da Seleção Amazonense de Vôlei da categoria Sub-16, Walhederson Brandão Barbosa, de 40 anos, preso em Manaus, praticava atos sexuais contra os atletas adolescentes há, pelo menos, 20 anos. A informação foi repassada pela delegada Joyce Coelho, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (Depca), em novembro de 2023.
Com a promessa de tornar os jovens da periferia da capital e interior do Amazonas em atletas profissionais, o técnico foi preso dormindo com dois jogadores de 15 anos, na casa dele no bairro Vila da Prata, Zona Oeste da cidade.
“Há quase 20 anos ele atua da mesma forma, imaginamos que há um número muito maior de vítimas. Hoje, na casa, nós também pedimos busca e apreensão de possíveis vítimas que estariam ali, porque haviam relatos de que ele também acabava trazendo meninos do interior e abrigando esses meninos na casa dele. Acreditávamos que tinha dois adolescentes na casa dele. Entretanto, nós encontramos seis garotos residindo na casa, inclusive um garoto do município de Nova Olinda do Norte, em que os pais confiaram nesse homem como uma espécie de tio, para que ele pudesse ali orientar o garoto”esclareceu a delegada Joyce Coelho, durante coletiva a imprensa.
Conforme a delegada, um dos jovens de 15 anos, que estava no momento do flagrante, declarou que morava com o acusado há quatro anos, desde os 11 anos, com a promessa de seguir no esporte e em troca o técnico exigia favores sexuais.
“Era uma criança, os pais ficaram chocados quando descobriram que, na verdade, os garotos estavam ali sofrendo abusos sexuais”, afirmou.
As investigações iniciaram após denúncia anônima informando sobre um vídeo que teria sido compartilhado em redes sociais, no qual o técnico aparece tendo relações sexuais com dois adolescentes.
“A partir desse vídeo identificamos tanto o autor, quanto as vítimas. O primeiro adolescente identificado tinha 16 anos, ele admitiu e contou os fatos. Depois de várias notícias, nós verificamos que o modus operandi do técnico é igual. Ele é um treinador, que tem acesso a vários estudantes, de escolas públicas, particulares e é técnico da Seleção Amazonense sub-16”, explicou a delegada.
Joyce Coelho informou, ainda, que o suspeito ludibriava as vítimas com a promessa de que os levaria para jogar em times de vôlei de prestígio. As investigações continuam tendo em vista a possibilidade da existência de outras vítimas.
“Hoje nós temos aproximadamente 12 pessoas que estão na mesma situação. O que a dinâmica do crime era, em síntese, trabalhar em cima dos sonhos desses adolescentes. Oferecendo alguns benefícios, para que conseguissem chegar, galgar os postos que queriam no time de vôlei. E através disso, praticando atos sexuais com o professor”, disse.
A delegada reforçou que houve uma possível omissão da Federação Amazonense de Voleibol, por já haver denúncias contra o técnico que foram anteriormente arquivadas pela entidade.
“Há uma situação de uma possível omissão da Federação Amazonense de Voleibol, uma vez que várias vítimas já relataram que fizeram denúncias formais na entidade, e a federação apenas fez sindicâncias internas, mantendo o treinador no cargo, ou seja, deixando o treinador ter acesso aos adolescentes, conviver com os adolescentes, levar os meninos a hotéis, para dentro de casa, então, essa situação nós vamos consultar a federação para que eles esclareçam, e também nos encaminhem essas sindicâncias que teriam sido realizadas, apenas de uma maneira interna, sem comunicar à Polícia Judiciária”, esclareceu Joyce Coelho.