POLÍTICA – O senador Plínio Valério (PSDB-AM) fez um discurso contundente na tribuna do Senado nesta terça-feira (16), denunciando ações violentas e supostamente irregulares promovidas por agentes do ICMBio e do Ibama em áreas rurais da Região Norte, especialmente no estado do Acre. Segundo o parlamentar, os órgãos ambientais, subordinados ao Ministério do Meio Ambiente comandado por Marina Silva, têm praticado abusos contra pequenos produtores, com operações realizadas sem ordem judicial, envolvendo confisco de bens, destruição de moradias e expulsões forçadas.
Plínio relatou que tem recebido diversos pedidos de socorro de moradores da zona rural, vítimas de abordagens agressivas durante fiscalizações. Em um dos relatos mais dramáticos, o senador mencionou o caso de um produtor que, após perder tudo, cometeu suicídio diante do desespero.
“Precisamos saber se essa operação é legal. Você dar tapa na cara de pai de família, apontar fuzil para uma mulher, despejar famílias e dizer ‘teu gado está confiscado, você só tem direito ao pano de bunda’… isso é inaceitável”, afirmou o senador.
Segundo Plínio, os agentes atuam com excesso de autoridade e sem transparência sobre a legalidade das ações, o que caracteriza abuso de poder. Ele criticou duramente a atuação do ICMBio, chegando a dizer que o órgão se tornou “um câncer terminal” no país.
“Eles invadem terras indígenas, forjam audiências públicas, têm poder absoluto sobre áreas protegidas e parques nacionais. Isso está fora de controle”, denunciou.
Vídeos e relatos alarmantes
Durante o pronunciamento, Plínio exibiu vídeos enviados por produtores rurais, incluindo um registro em que o deputado Coronel Ulysses (União Brasil-AC) tenta intervir em uma operação no Acre. No vídeo, Ulysses questiona um agente do ICMBio sobre a existência de ordem judicial ou administrativa, mas o servidor se recusa a fornecer qualquer informação.
“Então é uma operação clandestina? Nem a PRF, que participou da ação, sabe de onde veio a ordem. Cabe ao servidor público dar explicações, principalmente diante de um parlamentar”, reclamou o deputado.
Em outro trecho, um produtor rural relata, em lágrimas, que teve gado apreendido e abatido, e acusa os agentes de roubo e destruição de sua propriedade.
“Eles levaram 20 cabeças de gado, mataram no frigorífico, roubaram três vacas paridas com os bezerros. Trabalhei a vida toda para alimentar meu filho, e hoje sou tratado como bandido. A ministra Marina Silva podia vir aqui conversar, negociar. Em vez disso, está permitindo essa crueldade com a gente”, disse, antes de passar mal e ser socorrido.
Outro agricultor, igualmente abalado, disse ter sido expulso sem qualquer documento oficial que justificasse a ação.
“Disseram que todos os animais estavam apreendidos. Só pude tirar o que tinha dentro de casa. Perguntei pelo documento e disseram que vinha do juiz federal, mas não mostraram nada. O agente ainda disse: ‘Não faça muitas perguntas. Você não tem mais nada aqui, só tire o que é seu e fique calado’”, contou um morador, citando um servidor identificado como Guilherme, do ICMBio.
Críticas à estrutura das operações
O senador também questionou o uso de recursos públicos e estrutura de guerra nas ações contra pequenos agricultores, enquanto áreas dominadas pelo narcotráfico carecem de atuação efetiva do Estado.
“Há tantas outras prioridades neste país que precisam de investigação e combate, mas o que vemos é aparato com helicópteros, aviões e caminhonetes sendo usado para perseguir humildes trabalhadores em terras da União”, finalizou Plínio.
A denúncia gerou repercussão entre senadores e reacende o debate sobre os limites da fiscalização ambiental, o respeito aos direitos humanos e a atuação dos órgãos sob o comando do Ministério do Meio Ambiente.