MUNDO – Na sexta-feira, 23, o presidente do México criticou duramente as declarações do embaixador dos Estados Unidos, que havia classificado o projeto de reforma judicial do país como desrespeitoso, mencionando o que chamou de uma longa história de “política intervencionista” liderada pelos EUA nas Américas.
O presidente em fim de mandato, Andres Manuel Lopez Obrador, priorizou a aprovação da reforma judicial em suas últimas semanas no cargo. A medida controversa propõe que os juízes sejam eleitos por voto popular.
Na última quinta-feira, o embaixador dos EUA, Ken Salazar, afirmou que a proposta representa uma ameaça à democracia mexicana, alegando que ela tornaria o judiciário vulnerável à influência de grupos do crime organizado e colocaria em risco as relações comerciais entre os dois países.
Essas declarações são as mais fortes feitas até agora pelo maior parceiro comercial do México e aumentam significativamente as tensões entre os dois países em torno do assunto.
Em sua habitual conferência de imprensa matinal, Lopez Obrador defendeu vigorosamente sua reforma, que será votada no Congresso em setembro, durante seu último mês de mandato. Ele argumentou que a reforma ajudaria os juízes mexicanos a combater a corrupção e a limpar elementos que ele frequentemente critica como corruptos dentro do judiciário.
O partido de esquerda de Lopez Obrador, Morena, e seus aliados conquistaram grandes maiorias no Congresso nas eleições gerais de junho, provavelmente assegurando os dois terços necessários para incorporar a reforma na constituição do país.
“Houve uma falta de respeito à nossa soberania, como essa declaração infeliz e imprudente do embaixador Ken Salazar ontem”, disse Lopez Obrador.
“Não aceitamos que representantes de governos estrangeiros intervenham em assuntos que só nos dizem respeito”, acrescentou.
Salazar respondeu na sexta-feira, dizendo na rede X que seus comentários foram feitos “no espírito de colaboração” e que ele estava aberto a se reunir com líderes mexicanos para discutir o assunto.
O futuro Ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, também afirmou na sexta-feira que a proposta de reforma não prejudicará as relações comerciais entre os dois vizinhos, incluindo uma revisão do acordo comercial trilateral USMCA com o Canadá em 2026.
“O que você está falando?” ele brincou em inglês, antes de mudar para o espanhol. “Não nos ameace com isso”.
Ebrard, que conduzirá as negociações comerciais quando a presidente eleita Claudia Sheinbaum assumir em outubro, acusou Salazar de hipocrisia, observando que muitos juízes nos EUA são eleitos. No entanto, ele destacou que juízes da Suprema Corte e outros juízes federais nos EUA são nomeados.
A proposta no México é que todos os ministros da Suprema Corte sejam eleitos por voto no próximo ano, assim como metade dos magistrados e juízes. Uma nova eleição para os cargos restantes ocorreria em 2027.
