Manaus (AM) – Um vídeo impactante, postado horas antes da tragédia, ganhou centralidade nas investigações do grave acidente ocorrido na tarde de domingo (16 de novembro de 2025) na Avenida do Turismo, zona Oeste da capital amazonense.
No vídeo, os carros aceleram perigosamente, com manobras arriscadas e faróis acesos, em meio ao tráfego normal da avenida. Engenheiros de trânsito, como João Silva, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), estimam velocidades acima de 140 km/h com base nas imagens. “É uma conduta que transforma vias públicas em circuitos letais, assumindo o risco de consequências fatais”, analisou Silva.
O timing do vídeo é crucial: ele foi postado poucas horas antes da colisão fatal, por volta das 16h de domingo, envolvendo exatamente os mesmos modelos de veículos – Amarok, Polo e um Fiat Siena no sentido contrário.
As vítimas fatais foram Odorico Manoel Freitas D’Ávila Filho, de 58 anos, condutor do Siena que havia acabado de buscar a filha Karine, de 18 anos, após a prova do Enem – ela sobreviveu e foi hospitalizada em estado grave no Hospital 28 de Agosto –, e Yasmin Marques Ferreira, de 19 anos, passageira do Polo e filha de um policial militar, ejetada do veículo e morta no local.
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), via Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) e Delegacia Especializada em Acidentes de Trânsito (DEAT), incorporou o vídeo como evidência chave. O delegado Daniel Verzani confirmou que as imagens, combinadas com depoimentos e perícias nos veículos apreendidos, confirmam o racha como causa principal. “O registro prévio demonstra a reiteração da imprudência, configurando homicídio doloso eventual”, afirmou Verzani.
O condutor da Amarok, Luis Gustavo Silva Lima, de 23 anos, foi preso em flagrante no local, testou negativo no bafômetro e teve prisão convertida em preventiva na audiência de custódia desta segunda-feira (17), presidida pelo juiz Rivaldo Norões. O motorista do Polo, Renan Maciel da Silva, de 22 anos, também foi autuado pelos crimes de homicídio com dolo eventual e lesão corporal, com penas potenciais de até 12 anos de detenção.
Outros registros do acidente viralizaram, incluindo um vídeo comovente do pai de Yasmin, um PM, em desespero ao identificar o corpo da filha na pista, amparado por colegas. Postagens antigas de Luis Gustavo em perfis de entusiastas de velocidade reforçam o padrão de risco. Moradores da zona Oeste destacam que a Avenida do Turismo, apesar dos radares municipais, é palco frequente de rachas aos fins de semana. Na noite de sábado, horas após o vídeo do racha, um motociclista haitiano de 28 anos morreu em atropelamento fatal na mesma via, elevando o alerta para a impunidade no trânsito.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Sammam) anunciou operação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal para blitze antiracha na região. O artigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro tipifica direção perigosa como racha com detenção de seis meses a três anos, agravada em casos de morte. Com mais de 200 óbitos por acidentes em Manaus em 2025, o caso clama por fiscalização ostensiva e prevenção efetiva, enquanto as famílias das vítimas buscam justiça rápida.
